Associação dos Amigos de Alto dos Pinheiros.

Projeto prevê clube privado dentro do parque Villa-Lobos


Desde que os parques Villa-Lobos e Candido Portinari passaram à iniciativa privada, há dois anos, a estratégia da empresa que os administra tem sido abarrotá-los de eventos. Eventos muito diversos, mas com uma característica comum: temporários. Agora, contudo, a Reserva Parques pretende ir além: planeja instalar um empreendimento fixo, inclusive com um clube privado, pago, de entrada restrita.

O projeto, chamado Orla Villa-Lobos, não foi submetido ao conselho dos parques — dos quais a SAAP faz parte. Já acionamos a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Governo de São Paulo, solicitando informações mais detalhadas, mas ainda não tivemos resposta. O deputado estadual Antônio Donato (PT) também enviou um ofício à secretaria pedindo esclarecimentos, em 16 de outubro.

De acordo com uma reportagem publicada no site Metrópolis e materiais aos quais a SAAP teve acesso, a tal “orla” prevê:

  • ·    Área para shows com até 5 mil pessoas
  • Quadras e locais de atividades físicas para receber 2.500 praticantes por semana
  • Aulas de atividades físicas todos os dias, agendadas por um aplicativo específico
  • Área kids
  • Um parque de águas
  • Quatro locais para refeições, como restaurantes
  • Sete quiosques
  • Um clube fechado, com esportes de areia.

A área segregada, restrita a sócios, ocuparia um quarto da Orla Villa-Lobos. O descritivo do projeto caracteriza assim o local: “beach club exclusivo para associados, com esportes, lazer e momentos de bem-estar. Bar, restaurante, mezanino, quadras de beach tennis, tudo reunido em um centro de lazer sempre pronto a receber sócios e convidados.”

“É um absurdo que um projeto desse tipo não tenha sido apresentado de forma detalhada ao conselho do parque, não tenha sido discutido amplamente”, queixa-se Ignez Barretto, presidente do Conselho Consultivo da SAAP e membro do conselho do Villa-Lobos. “O contrato de concessão enfraqueceu o conselho, a representação da sociedade civil”, critica.

A SAAP avalia que o modelo da concessionária Reserva Parques já vinha desvirtuando o projeto original do Villa-Lobos, que privilegia a contemplação e a convivência com a natureza. O novo empreendimento radicaliza essa distorção, ao encravar no parque um empreendimento fixo e com um trecho restrito a pagantes regulares, associados.

O pior de tudo, talvez, seja que essas mudanças todas nem estão trazendo contrapartidas significativas na melhoria do parque propriamente dito. Como sugerem enquetes feitas pela SAAP, os moradores do bairro consideram que o Villa-Lobos está se deteriorando.